A noite é uma poesia

por Michelle Sill

Para


PARA AS PERNAS.

PARA.
CORRE.
PARA CORRER
NÃO PARA AS PERNAS,
PARA O PARAR.

PARA.
PENSA.
PARA AS PERNAS
NÃO PARA O ANDAR.

NÃO PARA.
ANDA E FALA
SEM PARAR.


Um verso, dois versos, tortos versos


Volta e meia                                      UM VERSO
Meio forte nunca                               UNIVERSO iNcErTo
Escrevo amores, dores                   COM PALAVRAS
Que eu já nem acho                         CERTAS
E nesse momento são                    EXPOSTAS
Já                                                       POR ESTES VERSOS
Tão                                                     MEUS TÃO
Ambíguos,                                         INÉDITOS.


Meia volta                                         O PLURI-VERSO
Num gesto                                        TORTO
Pela frente                                         E PELO VERSO
Uma palavra suja                             ROUBOU
Sem amores e pudores                  UMAS PALAVRAS
Uma idéia amoral e                         SEM JUIZO
Versos não meus                             QUE RESISTIRAM
Tão pouco                                         EM MAOS ALHEIAS


Michelle Sill e Byra Dorneles



Mova seus olhos em minha direção


Mova seus olhos em minha direção
Deixa eu te fazer sentir esse fogo que lateja
E mostrar o caminho pra meu caminho.
Põe-me no chão, a realidade nos almeja.

A direção dos seus olhos me disfarça
Nessas horas fico imatura, sem esperança.
Mas meu amor, seus olhos sem direção
Não me passam segurança.

Te amo assim
Como mulher
E não criança.


Quero um abraço.
Não sou menina,
Sou o amor em poesia a bater na sua cara
E você sem ação,
Ainda não viu a direção.


Te amo assim
Não assim assim.
Não é rima, nem poesia,
É em mim, é amor.




Insônia bem'dita

Insônia maldita.
Escrita. 
De novo insônia.
Bem'dita.

Descrita. 
Olhos que não fecham
A mente não cala, 
A alma não deita.
Fica.

Me deixa.

Repita.

Insônia, 
Insônia.

Nos pensamentos distantes.
Nas vontades desprezadas,
Nas drogas ingeridas,
Nas contas atrazadas.

Não precisa nem chamar.
Me atormenta.
Ei,
Insônia, vem cá.

Z... z...
          Z............Oh!











Amor libriano

Não quero ouvir seu desamor
Nem suas histórias já faladas.
Sonho com o fim da sua dor
Porque sou sua droga também viciada.
Que esse amor inseguro doendo em distância
Não te sinta ao lado inconstante
Com um lento piscar de olhos
A sustentar uma balança
Com suas mãos librianas
Que a mim já tanto tocaram.

Que não seja esse amor palavras
Escritas num quarto
Numa quarta à noite
Se limitando a registrar nossos amores,
Pudores,
Rubores.
Oh!
Horrores...

E que não venha nos cercar a falta de assunto.
Beats, Almodóvar , Borges, Bomba atômica...
Amor e sobre o tédio? Ele é um defunto.
E que as cores do luto não venham nos assustar.


Mãos

Dadas,
Não atadas,
Atacadas,
Imprevisíveis,
Já tão dadas.
Bobas.
Movendo-se a direções diversas
Direcionadas pelos dedos,
Acionadas para o desejo,
Mãos que se comem e não tem segredos.
Mãos de scanner a passear por mim.

 

Delicadas,
Ousadas,
Criativas
Mãos que se calam numa briga.
E apertam ‘play’ na diversão.
Loucas.
Desejadas nas noites intocadas.
Delícia de mão na escuridão.
Me persegue, belisca.
Delícia! Uau...
Mão nua
A te procurar nas ruas.
Compromissadas mãos
Com aneis comprados em camelô.

Mão na perna
Mão na mão
Mão no peito, Deus te agradeço!
Mão no braço
Mão a oscilar em meu corpo, eu não esqueço.

Mão





que





desce.

E já sabendo meu endereço
Procura sua obsessão.
Mão que cheira a pudor
E ousa a qualquer momento.

D-E-V-A-S-S-A-S,
Guias de nossa imaginação.




Afinada em Dó


Poesia não se come de pitadas
Feito sal para melhorar a pressão.
A poesia se come montada
Galopando nas palavras:
Tic-tac-tec-bum!  
É meu coração sem regras
Batendo igual bomba relógio.
Pulsa!
Pulsa sem cessar minhas artérias.

Me pica com sua picardia,
Fascina com seu rebolado,
E no fim me desafia com seu néctar poético,
Então onde entra a rima?
Onde a poesia quiser,
Sem estética nem métrica.
Poesia cabe aonde der.

Toda eclética,
Poesia se faz assim
Em qualquer hora
Inventa história
Em cima de mim.
Me pega a qualquer momento
Poesia é assim.
Em mim, em mil, em Mi, em Dó.
Poesia eu te amo.
Amo fazer
Poesia,
Espirra prazer.

Hum, oh!
-1,2,3.
Outra vez.
Hum...
Tic-tac-tec-bum!

Poesia entra como quem fica
E sai rápido, acelerando, acelerando...
Hum...
Poesia entra, sai e fica.
Volta, faz a rima em cima,
Morde, belisca e empurra,
Vira neologismo e cria nova palavra.
Em mim tornou-se dever.
Poesia me traz água?
Por hoje cansei de escrever.