A noite é uma poesia

por Michelle Sill

diz: -eu te amo.




eu não quero saber
de quem não me quer
não me ver
não me ler.
sei apenas do meu ser
dos meus desejos e dos meus sonhos que me acordam pela manhã ou tarde 
nunca realidade
o saber é uma verdade inigualável
consolável situação
vontade de dizer
todas aquelas palavras que faltam
e o momento
não se faz presente em nenhuma hora.
vontade de ir embora
procurar o que fazer.
e a saudade é pensamento solitário ao telefone
e longe
a voz ecoa sem ninguém do outro lado
ninguém a te escutar
nem ouvir teus sonhos
e planos
niguém pra te odiar
e proclamar em vão teu "puro" nome.
vontade de não mais ser
esse ser
vontade de lhe dizer
e saber
porque você não diz
eu te amo.

Faces do mundo cômico

 

 

 

pequenos estranhos
coralizados num só tom
cantam vaidades humanas
e refletem em suas faces
toda maldade do mundo.
em seus chapéus
um pedaço do céu
da ironia
e do cômico fantasiado.

Memória de mim




Eu vou
Pessoa que sou
Existo no futuro extinto
Na manhã triste
E no sorriso fechado.
Sou meu instinto.

Sou eu
Pessoa crua
E sem dosagens homeopáticas.
Vou lá abençoada
E gastada em palavras imprecisas
Demasiadas.

Sou eu
Meu melhor nesse momento
Alegre,
Sem tormentos.
Crente
E amada.

Vendo o dia fugir da sua rota
Sou
O meu
Eu
Melhor agora.

A lua, a torre e o céu.

Janela


Da janela do quarto se via aquele pouco mundo de pequenas paisagens,
sem tempo pra viagens pessoais
procurava distração
e as cortinas movimentavam-se
em direções contrárias do meu pensamento
parecendo braços acenando por atenção.


Um dia,
não me lembro bem,
descobri uma janela sem cortinas
e um quarto sem janela.

Contravenção

Entre o sonho e o Sonho


noite clara madrugada de quinta
quinta vez que bocejo agora
vou embora e fico
dor de cabeça no corpo inteiro
cubro cabeça e me visto de cabana
digo adeus e fico
insiste em mim o circo tristonho
as palavras não mais sentem ou se sabem
estou entre o sono e o sonho
vou já dormir
quando durmo não tenho sono.

memorian


p/"Ela que hoje foi ser vento". Voe...


Cor ண




Esta cor que me persegue
Serve
Como ágil observação
Decadente, envolvente
Me faz sonhar essa
Cor sem nome.

Diz ser sensata
Cor de pano velho
Tédio cor da escuridão
Fogo acabado
Cor do intermédio.

Esclarece dualmente
Sem mais
Envaidece, fenece.
Mas não é
Cor que arde em arco
E faz a junção do mastro
Com o mar de cor azul:
Imensidão.

cOr QuE nÃo EXISTE
Me cega
E me faz triste.
Insiste
Cor de chão que não pisei.


Carta a quem espera por uma.




Longe quão do mar que aqui me trouxe
Executa em mim a culpa
De nada dizer em notícias esperadas.
Mais compreensão desejo as mentes que me esperam
Pensem na positividade dos fatos
E na ausencia me velem.
Porque nada a mim acontece de negativo
Enquanto alguém me guarda em mente.
Meu coração é créduo que a sensação é duradoura
Espero que o frio passe
E que o sol aqueça
Os sorrisos que meu rosto reflete.
Quando assim penso em quem ficou a desejar meu abraço
E em quem ainda rir lembrando de minhas piadas sem graça,
Acredito que a felicidade me cerca
E que os quadros vivos pendurados em meu mundo novo
Só me trazem aquilo que passou.
Hoje acordei feliz.
E foi bom.

Michelle Sill, São Paulo-SP, 13º.

Há manhã



E amanhã não seremos o que fomos / nem o que somos.
Ovídio



É real
O existir hoje
Agora.




 Jogo 
Dado o tempo cru
Nú e novo de outrora.



Acaba.
O tempo para.
Ora!



Eu canto,
Conto já
No encanto que jaz agora.



Só corro.
E a Dor me ata.
Morro em dó, mi.



Passou.
Passou a manhã e disse:
Não retarde o tempo, hoje é agora.



Byra Doneles e Michelle Sill

É leoa e gazela


A medida de uma alma é a dimensão do seu desejo.
Gustave Flaubert




Leoa
À toa Flá.
Nem gazela
Nem mentes e mãos
Param ela
Depois de um cuba libre.



Livre,
A gazela se esconde
E deixa por onde
A leoa atacar
Leoa Flá!
Com suas garras embriagadas
A beliscar
No desejo de arranhar...
Leoa e gazela, são elas
Flá, lá, lá, lá, lá...
Hum!
Flá...


Para Flá Perez
e suas musas
quais?

Ato I




No ato risco
Atando meu corpo com fitas,
No ato preciso.

Sou deusa em cima de ti
No ato me visto de nu.

Sou vista de baixo
No ato sou alta.

Invento palavras precisas
Alteando entre sobriedade e loucura
No ato sou eu
Puta e pura.

No ato findo meu verso
Mordo meu lábio
E te como em retrocesso.

Trilogia suja

Poesia úmida

Para


PARA AS PERNAS.

PARA.
CORRE.
PARA CORRER
NÃO PARA AS PERNAS,
PARA O PARAR.

PARA.
PENSA.
PARA AS PERNAS
NÃO PARA O ANDAR.

NÃO PARA.
ANDA E FALA
SEM PARAR.


Um verso, dois versos, tortos versos


Volta e meia                                      UM VERSO
Meio forte nunca                               UNIVERSO iNcErTo
Escrevo amores, dores                   COM PALAVRAS
Que eu já nem acho                         CERTAS
E nesse momento são                    EXPOSTAS
Já                                                       POR ESTES VERSOS
Tão                                                     MEUS TÃO
Ambíguos,                                         INÉDITOS.


Meia volta                                         O PLURI-VERSO
Num gesto                                        TORTO
Pela frente                                         E PELO VERSO
Uma palavra suja                             ROUBOU
Sem amores e pudores                  UMAS PALAVRAS
Uma idéia amoral e                         SEM JUIZO
Versos não meus                             QUE RESISTIRAM
Tão pouco                                         EM MAOS ALHEIAS


Michelle Sill e Byra Dorneles



Mova seus olhos em minha direção


Mova seus olhos em minha direção
Deixa eu te fazer sentir esse fogo que lateja
E mostrar o caminho pra meu caminho.
Põe-me no chão, a realidade nos almeja.

A direção dos seus olhos me disfarça
Nessas horas fico imatura, sem esperança.
Mas meu amor, seus olhos sem direção
Não me passam segurança.

Te amo assim
Como mulher
E não criança.


Quero um abraço.
Não sou menina,
Sou o amor em poesia a bater na sua cara
E você sem ação,
Ainda não viu a direção.


Te amo assim
Não assim assim.
Não é rima, nem poesia,
É em mim, é amor.




Insônia bem'dita

Insônia maldita.
Escrita. 
De novo insônia.
Bem'dita.

Descrita. 
Olhos que não fecham
A mente não cala, 
A alma não deita.
Fica.

Me deixa.

Repita.

Insônia, 
Insônia.

Nos pensamentos distantes.
Nas vontades desprezadas,
Nas drogas ingeridas,
Nas contas atrazadas.

Não precisa nem chamar.
Me atormenta.
Ei,
Insônia, vem cá.

Z... z...
          Z............Oh!











Amor libriano

Não quero ouvir seu desamor
Nem suas histórias já faladas.
Sonho com o fim da sua dor
Porque sou sua droga também viciada.
Que esse amor inseguro doendo em distância
Não te sinta ao lado inconstante
Com um lento piscar de olhos
A sustentar uma balança
Com suas mãos librianas
Que a mim já tanto tocaram.

Que não seja esse amor palavras
Escritas num quarto
Numa quarta à noite
Se limitando a registrar nossos amores,
Pudores,
Rubores.
Oh!
Horrores...

E que não venha nos cercar a falta de assunto.
Beats, Almodóvar , Borges, Bomba atômica...
Amor e sobre o tédio? Ele é um defunto.
E que as cores do luto não venham nos assustar.


Mãos

Dadas,
Não atadas,
Atacadas,
Imprevisíveis,
Já tão dadas.
Bobas.
Movendo-se a direções diversas
Direcionadas pelos dedos,
Acionadas para o desejo,
Mãos que se comem e não tem segredos.
Mãos de scanner a passear por mim.

 

Delicadas,
Ousadas,
Criativas
Mãos que se calam numa briga.
E apertam ‘play’ na diversão.
Loucas.
Desejadas nas noites intocadas.
Delícia de mão na escuridão.
Me persegue, belisca.
Delícia! Uau...
Mão nua
A te procurar nas ruas.
Compromissadas mãos
Com aneis comprados em camelô.

Mão na perna
Mão na mão
Mão no peito, Deus te agradeço!
Mão no braço
Mão a oscilar em meu corpo, eu não esqueço.

Mão





que





desce.

E já sabendo meu endereço
Procura sua obsessão.
Mão que cheira a pudor
E ousa a qualquer momento.

D-E-V-A-S-S-A-S,
Guias de nossa imaginação.




Afinada em Dó


Poesia não se come de pitadas
Feito sal para melhorar a pressão.
A poesia se come montada
Galopando nas palavras:
Tic-tac-tec-bum!  
É meu coração sem regras
Batendo igual bomba relógio.
Pulsa!
Pulsa sem cessar minhas artérias.

Me pica com sua picardia,
Fascina com seu rebolado,
E no fim me desafia com seu néctar poético,
Então onde entra a rima?
Onde a poesia quiser,
Sem estética nem métrica.
Poesia cabe aonde der.

Toda eclética,
Poesia se faz assim
Em qualquer hora
Inventa história
Em cima de mim.
Me pega a qualquer momento
Poesia é assim.
Em mim, em mil, em Mi, em Dó.
Poesia eu te amo.
Amo fazer
Poesia,
Espirra prazer.

Hum, oh!
-1,2,3.
Outra vez.
Hum...
Tic-tac-tec-bum!

Poesia entra como quem fica
E sai rápido, acelerando, acelerando...
Hum...
Poesia entra, sai e fica.
Volta, faz a rima em cima,
Morde, belisca e empurra,
Vira neologismo e cria nova palavra.
Em mim tornou-se dever.
Poesia me traz água?
Por hoje cansei de escrever.