A noite é uma poesia

por Michelle Sill

Curto conto do falso sonho





Quando ouvi as batidas do bumbo na entrada da cidade, senti o cheiro do novo poluido, me vi despida no sereno do meio dia em constante movimento exacerbado.
Os mapas, os ventos, todas as sensações variadas, delicias monoteístas que monitoravam como grande olho espião. Todas as cores, cabelos e portais, apressados rostos entediados buscando por informação. Cidade-pecado, pesada população.
Eu vi e juro, foi como hoje, senti somente a tinta se aproximar e pintar o quadro perfeito da falsa criação, então sendo eu procurada corria, eu ainda não era nada com meu spray de pimenta na mão, os quadros um a um me seguiam...
Então, desencontrada, montada numa bicicleta e de meias listradas na noite me achava, vestida de festa me adaptava a situação, brilhava nas luzes que me cegavam, porém tranquilamente até ao nascer do dia quando  me procurava no espelho e já não mais me via.

i-limite




As vezes tenho medo que alguém sonhe com meu quarto,
mexa nas minhas coisas, abra minha gaveta, revire os meus textos.
Byra Dorneles



Limite é o LIMITE, e a razão é LIMITE da mente ILImitada, questão: mente piorada, minha.
Limite, limite, LIMITE, lImItE...
LIMITE
LIMITE
LIMITE...
Questão ilimitada.
Razão.
Limite não é nada.
Ultrapasse, limite-se de fazer nada.

diz: -eu te amo.




eu não quero saber
de quem não me quer
não me ver
não me ler.
sei apenas do meu ser
dos meus desejos e dos meus sonhos que me acordam pela manhã ou tarde 
nunca realidade
o saber é uma verdade inigualável
consolável situação
vontade de dizer
todas aquelas palavras que faltam
e o momento
não se faz presente em nenhuma hora.
vontade de ir embora
procurar o que fazer.
e a saudade é pensamento solitário ao telefone
e longe
a voz ecoa sem ninguém do outro lado
ninguém a te escutar
nem ouvir teus sonhos
e planos
niguém pra te odiar
e proclamar em vão teu "puro" nome.
vontade de não mais ser
esse ser
vontade de lhe dizer
e saber
porque você não diz
eu te amo.

Faces do mundo cômico

 

 

 

pequenos estranhos
coralizados num só tom
cantam vaidades humanas
e refletem em suas faces
toda maldade do mundo.
em seus chapéus
um pedaço do céu
da ironia
e do cômico fantasiado.

Memória de mim




Eu vou
Pessoa que sou
Existo no futuro extinto
Na manhã triste
E no sorriso fechado.
Sou meu instinto.

Sou eu
Pessoa crua
E sem dosagens homeopáticas.
Vou lá abençoada
E gastada em palavras imprecisas
Demasiadas.

Sou eu
Meu melhor nesse momento
Alegre,
Sem tormentos.
Crente
E amada.

Vendo o dia fugir da sua rota
Sou
O meu
Eu
Melhor agora.

A lua, a torre e o céu.

Janela


Da janela do quarto se via aquele pouco mundo de pequenas paisagens,
sem tempo pra viagens pessoais
procurava distração
e as cortinas movimentavam-se
em direções contrárias do meu pensamento
parecendo braços acenando por atenção.


Um dia,
não me lembro bem,
descobri uma janela sem cortinas
e um quarto sem janela.