A noite é uma poesia

por Michelle Sill

Comendo o amor...


Amo-te desde já.
E deste amor de agora
Vivo afinidades provisórias
Me jogo igual amor de muitos anos.

Amor que veio de repente
Em meio a confissões e conversas
Criou-se, gerou-se amor crescido
Fez em minha mente fresta.

Faça-me um ser amado novamente.
Deleite em meus ouvidos histórias mundanas,
Escute meus pensamentos tão mudos
E sopre-os feito vento a refrescar o mundo.

Solidão recíproca na noite deserta
Encontro-o a distância para assim sermos
Pessoas soberanas no prazer das palavras
Comendo o amor em sua forma mais poética.

Dias em que vale a pena viver...

Neste mundo dividido pelo medo
Há uma razão pra estarmos aqui?
Vamos fazer o melhor de nossas vidas, 
Porque esses são os dias
Em que vale a pena viver
E que jamais esqueceremos.

É o amor hoje a noite, e sempre
Enquanto todos dormem e sonham
Com uma vida mais crente.

Façamos de nós o momento
E sem tormentos caiamos em tentação,
Somos agora mais que amigos, cumplices.
E sem rezas, ouça a música trilha do seu coração.
Guie sua mão no volante do destino
E de olhos vendados vire a esquerda.

É o amor hoje a noite, e sempre
Enquanto todos dormem e sonham
Com uma vida mais crente.



Um brinde aos sonhos!

Neste lugar impossibilitado
Este não mais risonho,
Veja, sinta, podemos voar.
Então, um brinde aos sonhos!


No marasmo diário
Devotos da santa monotonia,
Saiamos desta prisão domiciliar
Catemos já nossa auforria.


Cansados de nós mesmos,
Antes que o nada nos coma
Arrisquemos enfim sem pesadelos
Vamos curtir nossos erros
Inventando segredos, manias e anseios...

Preferível é não viver os medos,
Nem se esconder no armário,
Pois somos nesse mundo úmido

Mais uma rima de Raimundo
Presos no aquário do nada.


Vivemos no planeta água
Então sejamos humanos
Não vamos ser burrice,
Ponhamos nossa bóia
Iremos a superfície
Fazer ou não história.



Amor prestante

Vejo-me convicta desse amor prestante
Viajo em coincidências reais ou não.
Digo-lhe apenas: ame-me o suficiente,
Faça-me em ti rima e canção.
Este sentimento normal
Envolvendo dois seres não nostalgicos
Transformando em poesia
Em um "romance ideal"
Agora, minha desejada companhia.

Leia meu manual
Instrua-me objetivamente
Para que essa paixão
Em qual vejo-me crente
Faça-me tão sua agora
Num desejo egoísta e inerente.



Vidências recitadas

Flor cybernética
Desabrochando em seu programador
Que a fez, a lapidou
Usando rimas frenéticas.

Surfando prazeres intocáveis
Visitando pensamentos
Te ver é um desejo voraz
Afetando-me a todo momento.

Tua companhia tardia
ou simplesmente adiada,
Suas vidências recitadas
Me levam a ti qualquer dia.



Amor inventado


Amo-te como coitado,
Eu mendigando atenção.
Amo-te, meu amor inventado
Isso tornou-se o caminho
Para a ponte de poesia e canção
Que me fez um ser inviolado.


Não te amo como um irmão,
Muito menos como amigo
É sim, fonte de inspiração
Esse amor que não é inimigo.
Amizade ou amor por engano,
Amigos também dizem “eu te amo”.


Que não seja mortal, razão de melancolia
Mas que seja poço de muitas ou poucas alegrias.



O que eu não entendo II

Serei eu mulher imposta
A nudez do mundo
A refletir sobre pensamentos
Que emudece a fala da verdade?


Não sou devassa igual mentira
Nem cruel como a verdade,
Paro no vento em delírio
Vejo-me criando martírio.

Depreciando injustiças
Sou eu calma e não surpresa
A injustiças já feitas
Neste reino de cobiças.


A espera de uma abdução
De uma nave da loucura
Que me tire do tédio
Desse orbe já sem cura.



Complexo de alma


Alma calada e sozinha
Suada e perplexa de medos,
Pinta segredos em suas costas
Em preto e branco adormece.

Escuta o chamado do dia
Lembra da noite outra vez.
Alma dormindo fenece
Ressuscita e desaparece.

Chuva molhando alma triste
Traz cor no corpo a cada pingo
Como luz em fundo de poço
Chuva cai, molha meu rosto.

Alma tem drama momentâneo
Atuando a cada instante
Ensaia alma tua presença:
“Eu e minha alma em eterna desavença”.




O que eu não entendo

Revi-me dentro de mim
Olhando um quadro famoso.
O barulho, a rua, o latim
Tudo está tão jocoso.

Uma priori fez necessária
Num sonho já inerente,
Se não há mais oportunidades
Porque ainda vejo-me crente?




Sem demagogias

Te procurei em rostos e sorrisos
Me perdi em garrafas e discos.
Te encontrei e perdi-me
Isso é mais que um risco.

Me viste cansada sorrindo
Almejando um lugar de carinho.
Olhei-me no espelho quebrado
provaste do meu espinho.

Vivo sem demagogias,
De mim mesma soberana.
Não há mais como transceder
A minha alma já cigana.


Declaração I

Passeio num labirinto
Sem faunos ou distração,
Sigo só e sem destino
Buscando uma direção.

Do nada que sei, nem lembro.
Nos livros que li, me perdi.
No mundo me fiz vento
E dos amores, sumi.

Persistindo numa paixão
Que martirizo a cada dia,
Estarrecida, alegre ou triste
Transformo-me em poesia.


Possível impossibilidade

Se fiz você em mim
Quero você agora
Conversas me fazem luzir
Você me faz competir
Com meus anseios de outrora.

Inspira-me com seu pensar.
Leve-me consigo agora
Solte-me no mundo louca
Me faça perder a memória.
Faça a sua parte
Que farei parir palavras
De nossa omissa história.


Intervenção do silêncio

Ouço o silêncio intervir
Nas condições de meu pensamento
O dia me traz tormento
A noite faz por insistir.

Uma idéia elevada
Talvez muito superior
Me vejo inferior
A minhas idéias copiadas.

Vivendo entre cegos
Não sou rainha por ter olho
Sou algo de retrocesso
Um vulto qualquer como tantos outros.

Voando contra o destino
Sigo o caminho contrário
Buscando minha estrela guia
Caio, levanto em desatino.

Sendo eu o "desconhecido"
Me vejo inerente a meu dom
Escrevo, publico, não desisto!
Igual a sina e insistência
Eu tenho em mim uma carência
De mostrar através das palavras
Minha fiel existência.

Voando contra o destino
Sigo o caminho contrário
Buscando minha estrela guia
Caio, levanto em desatino.